Rbeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, pode deixar para trás o estigma de cidade marcada pela presença de presídios e dar um salto inédito rumo à era tecnológica. O motivo é a possível ativação da fábrica de semicondutores Unitec S/A, instalada no município desde 2012, mas que nunca operou de forma efetiva. O cenário mudou com a possibilidade de a Apple transferir parte de sua produção global para o Brasil, diante da nova política de tarifas dos Estados Unidos contra produtos chineses.
A notícia da expansão da produção da Apple no Brasil reacendeu a discussão sobre a necessidade de um parque de semicondutores nacional. A Unitec cuja planta foi projetada com tecnologia de ponta e investimento estimado em R$ 1,2 bilhão poderia se tornar peça-chave para abastecer o mercado interno com chips essenciais a celulares, computadores, carros e eletroeletrônicos.
Potencial econômico para Neves
Se reativada com 100% da capacidade, a Unitec pode gerar um impacto direto e indireto profundo na economia de Ribeirão das Neves:
300 a 400 empregos diretos qualificados (engenheiros, técnicos em eletrônica, operadores de sala limpa)
Até 2.000 empregos indiretos nas áreas de manutenção, logística, segurança, limpeza, TI e transporte
Arrecadação anual estimada de R$ 20 a R$ 25 milhões em impostos municipais (ISS, taxas de funcionamento, licenciamentos e movimentação econômica de fornecedores)
Aumento do PIB local em até 3% nos primeiros 5 anos de operação, segundo estimativas de economistas da UFMG
Incentivo à criação de um parque tecnológico e formação de mão de obra em universidades locais.
Um gigante adormecido
A Unitec Semicondutores foi concebida como o maior projeto industrial de base tecnológica de Minas Gerais no início da década passada. Sua estrutura inclui:
35 mil m² de área construída
Sala limpa (ambiente esterilizado) com controle de partículas para fabricação de chips
Capacidade para produzir mais de 15 mil wafers por mês (lâminas de silício que dão origem aos chips)
Tecnologia licenciada da IBM e outros players internacionais
Apesar disso, a empresa enfrentou falta de continuidade nos repasses do BNDES, problemas jurídicos e ausência de uma política federal de incentivo à indústria de semicondutores.
Apple pode mudar o jogo
Em 2025, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou um pacote de tarifas sobre eletrônicos importados da China e Índia, visando proteger a indústria americana. A Apple, que já produz iPhones parcialmente no Brasil por meio da Foxconn, estaria buscando expandir essa produção local incluindo mais etapas da cadeia, como montagem de placas, chips e testes.
Caso a produção avance para níveis mais complexos, será inevitável a demanda por semicondutores nacionais. A Unitec, que já tem infraestrutura e localização estratégica, pode ser a alternativa ideal.
Oportunidade para mudar a imagem da cidade
Ribeirão das Neves abriga quase 350 mil habitantes e convive historicamente com baixa geração de emprego formal e presença marcante do sistema prisional. A ativação da Unitec poderia reverter esse cenário, tornando a cidade símbolo de uma nova era industrial baseada em conhecimento e inovação.
"Essa é a chance de ouro de transformar a cidade. A Unitec não pode continuar como um elefante branco", afirma o economista Fábio Machado, especialista em indústria tecnológica. Ele destaca que, com incentivos corretos, Neves pode se integrar ao mapa global de inovação.
Conclusão
O Brasil está diante de uma oportunidade estratégica: usar o interesse de gigantes globais como a Apple para reativar um projeto nacional, criar empregos e fortalecer sua soberania tecnológica. Para isso, é preciso articulação entre governo federal, estadual, iniciativa privada e bancos de fomento.
Ribeirão das Neves está no centro dessa virada. A cidade pode deixar de ser conhecida apenas pelos presídios e se tornar referência em alta tecnologia. Basta que o país acorde seu gigante adormecido: a Unitec.
Fonte: TV DO POVO
